28.8.06
Franco Incomoda
Recentemente, a propósito da notícia da remoção da estátua equestre do Generalíssimo Franco, do átrio da Academia Militar de Saragoça, por decisão polémica do Primeiro-Ministro espanhol, J.L. Zapatero, que tem escolhido alguns temas de afirmação realmente fracturantes, veio-me à memória uma controversa acção de Franco que terá ocorrido nesta Academia, antes ou depois de Franco ter sido nomeado seu Director.
Trata-se da apresentação de uma sua tese para promoção na carreira militar que versava sobre um plano de conquista militar expedita de Portugal, por parte das Forças Armadas espanholas, assunto pouco conhecido e raramente comentado entre a intelectualidade lusitana, hoje bastante menos receosa destas hipotéticas ameaças.
Julgo ter lido ou ouvido tão surpreendente revelação ao já falecido historiador contemporâneo, César de Oliveira, que chegou a ter um programa televisivo nos tempos do PREC, salvo erro, intitulado «A História é feita pelo Povo».
Poderá a imensa e largamente generosa blogosfera confirmar-me a veracidade desta pouco referida questão quanto ao tempo e ao local da sua suposta ocorrência ?
Desde já agradeço a quem puder esclarecer este assunto.
AV_Lisboa, 28 de Agosto de 2006
Trata-se da apresentação de uma sua tese para promoção na carreira militar que versava sobre um plano de conquista militar expedita de Portugal, por parte das Forças Armadas espanholas, assunto pouco conhecido e raramente comentado entre a intelectualidade lusitana, hoje bastante menos receosa destas hipotéticas ameaças.
Julgo ter lido ou ouvido tão surpreendente revelação ao já falecido historiador contemporâneo, César de Oliveira, que chegou a ter um programa televisivo nos tempos do PREC, salvo erro, intitulado «A História é feita pelo Povo».
Poderá a imensa e largamente generosa blogosfera confirmar-me a veracidade desta pouco referida questão quanto ao tempo e ao local da sua suposta ocorrência ?
Desde já agradeço a quem puder esclarecer este assunto.
AV_Lisboa, 28 de Agosto de 2006
Regresso às Lides
Depois das férias, é oportuno efectuar novo balanço. Rever o que se fez, o que ficou por fazer, o que poderia ter sido mais bem feito ou melhor aproveitado, enfim, conceder à nossa agitação quotidiana aquele compasso de espera de que necessitamos para empreendermos mais um período, longo, de trabalho.
Neste verão, que ainda não terminou, mas que vive já os seus últimos encantos, tive oportunidade de apreciar um pouco da programação televisiva portuguesa dos seus quatros canais principais.
Encontrei assim uma verdadeira enxurrada de telenovelas, ocupando todas as faixas do horário de emissão, incluindo o dito horário nobre ou, para usar a linguagem altaneira preferida dos media, o prime time, entrecortadas de pequenos programas de suposta diversão, a maioria de uma aviltante pobreza mental, a explorar o picaresco, a malícia, a conotação sexual das anedotas, etc., tudo numa cabal prova de mau gosto, de grosseria pura, sem respeito pela dignidade do público telespectador.
Já sei que alguns despachados vão retorquir que vê quem quer e que existe um botão para ligar como para desligar o aparelho. É verdade. Mas isso não elimina a responsabilidade de quem produz programas televisivos, que é a de respeitar a categoria pensante daqueles a quem eles se dirigem: o vasto público, heterogéneo no gosto, na idade e na sensibilidade. Truísmo comezinho, mas desatendido, por desdém ou inconsciência dos presuntivos responsáveis dessas rascas programações.
Compreende-se que seja difícil agradar a todos, evidentemente, como também quem concebe a programação deveria não assumir como rasa a inteligência de todo o auditório, mesmo que nele predomine a baixa exigência. Degradamos tudo, se presumimos o mau gosto generalizado, a falta de escrúpulo, como regra, a boçalidade maioritária, etc.
Tudo isto nos leva a perguntar: que será feito da antiga Alta Autoridade para a Comunicação Social ?
Em que nova estrutura ela terá encarnado e que actividade presentemente desenvolverá, muita gente gostaria certamente de saber. Da inutilidade da anterior Alta Autoridade, completa contradição nos termos, porque não era autoridade nenhuma, muito menos, alta, ficámos todos cientes.
Da sua longa existência, não se retém proveito algum, apesar do estertor demonstrado no caso Marcelo, quando este fustigava, e bem, semanalmente, na TVI, as desventuras governativas de Santana Lopes, decididamente fadado para outras matérias que não as da gravidade do Estado.
A partir daí, eclipsou-se de vez, como, de resto, aconteceu com muita outra indignação colectiva ante os malefícios da governação neo-liberal de Santana, agora, no essencial, reassumida pelo socialista José Sócrates, surpreendentemente elogiado, até pelos sectores mais ousados naquela tendência governativa, presumivelmente pouco aparentada com as opções do ideário socialista.
Parece que o remédio para a tradicional hostilidade da Comunicação Social, estará em qualquer responsável governativo intitular-se ou presumir-se de socialista, de preferência com algum currículo oposicionista ao antigo regime, requisito, todavia, que se vai tornando difícil de assegurar, pela juventude dos candidatos. A partir daí, nada a recear : é fazer como os outros.
Alguns mais inventivos exibirão, pressurosos, os galões do anti-cavaquismo, em tempos encarado como uma espécie de sucedâneo do anti-fascismo dos mais velhos, onde, inelutavelmente, pontificavam os comunistas, de credibilidade entretanto diminuída, pelo infortúnio mundial da sua doutrina, finalmente reconhecida, quando surgiu o homem das reformas irremediavelmente atrasadas: M. Gorbatchev.
No meio destas contradições, entre nós vai governando um elenco medíocre q.b., com tiques autoritários onde eles não têm cabimento, com a complacência manhosa de grande parte da Comunicação Social, com a Televisão a desempenhar aqui um vincado papel de alienação colectiva, fortemente anestesiante, que há-de garantir-nos, por bons anos, por certo, um muito subalterno lugar no exigente mundo da Ciência e da Cultura.
Curiosamente, não se detectam ainda sinais de rejeição por parte do imenso público televisivo. Terão já as doses recebidas de tanta nociva programação começado a produzir o seu esperado efeito entorpecente na consciência cívica do vasto auditório nacional ?
Inclino-me bastante para esta última hipótese, porque não será impunemente que se terá sofrido tanta sevícia televisiva, principalmente, e para desgraça daqueles que tanto reivindicaram o fim do monopólio da RTP estatal, com o advento da produção dos canais privados.
Onde andará aqui a sempre mui louvada correctiva mão invisível do Mercado ?
Como é possível sustentar uma programação televisiva à base de telenovelas, de argumentos idiotas, umas vezes, outras, sem argumento nenhum perceptível, concursos fastidiosos, em que os temas fúteis são equiparados aos de maior prestígio, complementada por diluvianas horas de filmes norte-americanos, em que a profusa violência gratuita se combina com a exploração grosseira do sexo, visto como maná inesgotável para atrair multidões ?
Que mentalidades virão a ser forjadas a partir de semelhante dieta cultural ?
Será que já todos terão aceitado a barbárie televisiva como norma de diversão contemporânea ?
Por quanto tempo ainda nos manteremos mansamente conformados com a presente indigência televisiva ?
Eis algumas das questões a que deveríamos procurar responder, porque, numa época em que três canais abrem a emissão de telejornais com notícias de confusões interpretativas de «leis desportivas», explicadas e comentadas com pormenor por juristas conceituados, algo vai podre neste pândego reino da Dinamarca.
Será possível que ninguém se incomode com tal abuso de poder, que calca aos pés a nossa já depauperada inteligência nacional ?
Será da estação do ano que se atravessa ou já ninguém mesmo se rala com o despautério dos presidentes e demais dirigentes associativos do magno espectáculo circense em que na actualidade o Futebol todo se converteu?
Haja quem responda, com optimismo, pois bem precisados dele todos andamos.
AV_Lisboa, 27 de Agosto de 2006
Neste verão, que ainda não terminou, mas que vive já os seus últimos encantos, tive oportunidade de apreciar um pouco da programação televisiva portuguesa dos seus quatros canais principais.
Encontrei assim uma verdadeira enxurrada de telenovelas, ocupando todas as faixas do horário de emissão, incluindo o dito horário nobre ou, para usar a linguagem altaneira preferida dos media, o prime time, entrecortadas de pequenos programas de suposta diversão, a maioria de uma aviltante pobreza mental, a explorar o picaresco, a malícia, a conotação sexual das anedotas, etc., tudo numa cabal prova de mau gosto, de grosseria pura, sem respeito pela dignidade do público telespectador.
Já sei que alguns despachados vão retorquir que vê quem quer e que existe um botão para ligar como para desligar o aparelho. É verdade. Mas isso não elimina a responsabilidade de quem produz programas televisivos, que é a de respeitar a categoria pensante daqueles a quem eles se dirigem: o vasto público, heterogéneo no gosto, na idade e na sensibilidade. Truísmo comezinho, mas desatendido, por desdém ou inconsciência dos presuntivos responsáveis dessas rascas programações.
Compreende-se que seja difícil agradar a todos, evidentemente, como também quem concebe a programação deveria não assumir como rasa a inteligência de todo o auditório, mesmo que nele predomine a baixa exigência. Degradamos tudo, se presumimos o mau gosto generalizado, a falta de escrúpulo, como regra, a boçalidade maioritária, etc.
Tudo isto nos leva a perguntar: que será feito da antiga Alta Autoridade para a Comunicação Social ?
Em que nova estrutura ela terá encarnado e que actividade presentemente desenvolverá, muita gente gostaria certamente de saber. Da inutilidade da anterior Alta Autoridade, completa contradição nos termos, porque não era autoridade nenhuma, muito menos, alta, ficámos todos cientes.
Da sua longa existência, não se retém proveito algum, apesar do estertor demonstrado no caso Marcelo, quando este fustigava, e bem, semanalmente, na TVI, as desventuras governativas de Santana Lopes, decididamente fadado para outras matérias que não as da gravidade do Estado.
A partir daí, eclipsou-se de vez, como, de resto, aconteceu com muita outra indignação colectiva ante os malefícios da governação neo-liberal de Santana, agora, no essencial, reassumida pelo socialista José Sócrates, surpreendentemente elogiado, até pelos sectores mais ousados naquela tendência governativa, presumivelmente pouco aparentada com as opções do ideário socialista.
Parece que o remédio para a tradicional hostilidade da Comunicação Social, estará em qualquer responsável governativo intitular-se ou presumir-se de socialista, de preferência com algum currículo oposicionista ao antigo regime, requisito, todavia, que se vai tornando difícil de assegurar, pela juventude dos candidatos. A partir daí, nada a recear : é fazer como os outros.
Alguns mais inventivos exibirão, pressurosos, os galões do anti-cavaquismo, em tempos encarado como uma espécie de sucedâneo do anti-fascismo dos mais velhos, onde, inelutavelmente, pontificavam os comunistas, de credibilidade entretanto diminuída, pelo infortúnio mundial da sua doutrina, finalmente reconhecida, quando surgiu o homem das reformas irremediavelmente atrasadas: M. Gorbatchev.
No meio destas contradições, entre nós vai governando um elenco medíocre q.b., com tiques autoritários onde eles não têm cabimento, com a complacência manhosa de grande parte da Comunicação Social, com a Televisão a desempenhar aqui um vincado papel de alienação colectiva, fortemente anestesiante, que há-de garantir-nos, por bons anos, por certo, um muito subalterno lugar no exigente mundo da Ciência e da Cultura.
Curiosamente, não se detectam ainda sinais de rejeição por parte do imenso público televisivo. Terão já as doses recebidas de tanta nociva programação começado a produzir o seu esperado efeito entorpecente na consciência cívica do vasto auditório nacional ?
Inclino-me bastante para esta última hipótese, porque não será impunemente que se terá sofrido tanta sevícia televisiva, principalmente, e para desgraça daqueles que tanto reivindicaram o fim do monopólio da RTP estatal, com o advento da produção dos canais privados.
Onde andará aqui a sempre mui louvada correctiva mão invisível do Mercado ?
Como é possível sustentar uma programação televisiva à base de telenovelas, de argumentos idiotas, umas vezes, outras, sem argumento nenhum perceptível, concursos fastidiosos, em que os temas fúteis são equiparados aos de maior prestígio, complementada por diluvianas horas de filmes norte-americanos, em que a profusa violência gratuita se combina com a exploração grosseira do sexo, visto como maná inesgotável para atrair multidões ?
Que mentalidades virão a ser forjadas a partir de semelhante dieta cultural ?
Será que já todos terão aceitado a barbárie televisiva como norma de diversão contemporânea ?
Por quanto tempo ainda nos manteremos mansamente conformados com a presente indigência televisiva ?
Eis algumas das questões a que deveríamos procurar responder, porque, numa época em que três canais abrem a emissão de telejornais com notícias de confusões interpretativas de «leis desportivas», explicadas e comentadas com pormenor por juristas conceituados, algo vai podre neste pândego reino da Dinamarca.
Será possível que ninguém se incomode com tal abuso de poder, que calca aos pés a nossa já depauperada inteligência nacional ?
Será da estação do ano que se atravessa ou já ninguém mesmo se rala com o despautério dos presidentes e demais dirigentes associativos do magno espectáculo circense em que na actualidade o Futebol todo se converteu?
Haja quem responda, com optimismo, pois bem precisados dele todos andamos.
AV_Lisboa, 27 de Agosto de 2006